segunda-feira, 2 de maio de 2011
Da série "Trecos que eu curto" - "Rango"(2011)
Os faroestes dos anos 50 pra frente eram marcados por heróis muitas veses fora de seus habitats, de seus mundos. Eles tinham que se adaptar ao ambiente, para assim triunfar sobre seus inimigos. Pensando dessa maneira, não é menos do que gênial a decisão do diretor Gore Verbinski (de "Piratas do Caribe" e "O Chamado") de criar justamente um camaleão para ser o protagonista de "Rango", pois o animal é a parábola perfeita aquele tipo de herói a tanto esquecido. E para os que ainda não sabem, "Rango" é, sim, um Western. Além disso, é uma das maiores e mais belas homenagens a este gênero que eu ja ví.
Mas o que me fez amar este filme tanto assim? Tentarei explicar sem soar chato ou "auto-cult" demais(se não conseguir ambos, mil perdões!)
Sem entrar em spoilers, deixo aqui a rápida sinopse do filme: Rango é um camaleão criado em cativeiro, que um belo dia se ve livre de sua gaiola, no meio do deserto. Após andar muito, ele enfim encontra uma cidade que sofre de uma terrível falta de água. Ao fazer amizades com varios dos moradores do bizarro vilarejo, Rango se oferece para encontrar água para todos, mas vai ver que as razões da falta d'agua são bem mais corrúptas do que imaginava.
Tente esquecer os animais falantes, atenha-se apenas ao plot. Poderia sair de um western dos anos 60? Pode apostar. O visual do filme tambem faz questão de nos fazer voltar ao passado, ao mostrar desde o saloon sujo e lotado até os moradores da cidade, que aparecem suados, desdentadose maltrapilhos. Acho que não vejo personagens tão feios (e por isso mesmo, tão cativantes) em uma animação a um bom tempo. E é fantástico como varios desses personagens remetem a figuras clássicas de westerns, como a aranha agente-funerária, ou o impagável corvo indígena, e até mesmo o vilão Jake Cascavel. Este ultimo então possui escamas mais escuras nos lábios superiores, que remetem a um fino bigode, que se comparado ao seu escuro chapéu nos fáz imediatamente lembrar de Sentenza(vilão interpretado pelo saudoso Lee Van Cleef, em "Três Homens em Conflito").
E então temos Rango, interpretado por Johnny Depp. Isso mesmo, interpretado. Verbinski usou uma tecnica chamada "Emotion Capture"(Não confundir com "MOTION Capture"), em que os atores realmente atuam como os personagens, mas diferente da "Motion Capture", aqui os atores são usados apenas como referencia.
Logo que eu vi as fotos de Rango, vi a homenagem quase descarada a Huntar S. Thompson(jornalista que ja fora interpretado por Depp, em "Medo e Delírio", pra mim a melhor performance do cara). O Camaleão tem o andar, maneirismos e, principalmente, uma voz que lembram bastante as de Thompson. Mas ao ver o filme, me surpreendeu como, ao criar Rango, Verbinski conseguiu brilhantemente criar uma fusão entre Thompson e o Homem Sem Nome(Personagem de Clint Eastwood em "Por um Punhado de Dólares"). É como se a idéia de Thompson derrepente virar Eastwood fosse totalmente plausível. Rango é inseguro, mas pensa rápido, faz questão de não mostrar suas fraquesas, mesmo quando elas se mostram contra sua vontade. Mais uma vez citando Thompson, vale dizer que o próprio aparece em uma ponta logo no início ja projeção, dirigindo seu caddilac vermelho e "atropelando" Rango.
A direção de Verbinski tambem remete surpreendentemente ao passado, com os famosos closes fechados na cara dos personagens, ou na maneira que ele os filma em constraste com o por-do-sol. Quando opta por uma direção mais ágil, como na perseguição no Canion, ele remete tanto aos tiroteios a cavalo de westerns como as cenas aéreas de filmes de guerra(aqui, morcegos são usados como se fossem aviões de batalha). O diretor tambem mostra(o que não é novidade), que tem um excelente olho para a comédia, como na cena em que este tenta limpar o estrago que fez na cara de um personagem, ou quando imita o andar de John Wayne para demonstrar coragem.
Em meio a fantásticas cenas de corridas, ótimas gags e personagens fantásticos e nostalgicos, Verbinski chega ao ápice de, no terceiro ato, me pegar completamente desprevenido ao incluir na narrativa uma homenagem a alguem fundamental ao gênero western. Não vou revelar detalhes, mas fiquei tão pasmo com a cena que quando percebi, meus olhos estavam cheios d'agua. Sem dúvidas, uma das cenas mais bonitas e noltalgicas dos ultimos anos.
Enfim, "Rango" se tornou um dos meus filmes favoritos de todos os tempos(e, acreditem, o acho superior a qualquer obra da Pixar, tanto por conteúdo como por design). Lembrar dele hoje me motivou a escrever este post, que ninguem vai se importar em ler, mas que é válido por me ajudar a analizar uma obra, e a descobrir não se gosto dela, mas PORQUE gostei dela. Gore, Johnny e Rango, meu muitíssimo obrigado.
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